terça-feira, 21 de abril de 2009

Pela janela...

Pela janela vejo aqueles tons amarelados se transformarem no azul... Pela janela também vejo que há um tempo atrás eu tinha coisas que hoje não me pertecem mais... E não são coisas materiais, ou concretas... mas uma parte da personalidade que eu tinha se foi...
Lembro do cara de 16 anos que estava descobrindo o sexo com a primeira namorada... Lembro que esta primeira namorada queria se entregar mais, entretanto era apenas uma criança...
Lembro das melodias de madrugada que escutava por uma garota confusa (e aliás, a primeira namorada foi de fato a única menina, dentre todas que eu fiquei, que sabia pelo menos o que queria, pois TODAS as outras sempre eram confusas...) e que até hoje fazem diferença, não por ser ela em si, mas pelas sensações únicas e indescritíveis de uma época em que minha realidade era bem diferente....
Lembro das duas funcionárias da loja do meu pai, e dessas, uma que fez uma diferença tremenda na minha vida... E não pelo tempo, mas pela forma em que conduziu as coisas... hoje, é tudo um passado trancado em uma pequena caixa de arrependimento, que ocupa um espaço, mas não atrapalha as minhas outras "caixas"...
Pela janela, lembro daquela época de 3 ou 4 anos que eu me dediquei a buscar um tempo que só existiu na minha cabeça, mas que foi tão real para mim quanto o teclado em que digito essas palavras, e me lembro que tantas músicas, tantos rostos e tantas palavras ficaram guardadas, desta vez em caixas maiores, mais pesadas e mais novas aqui dentro, e que vez ou outra se destampam e fazem correr no sangue novamente aquele tempo que só existe em meu universo paralelo.
Pela janela eu olho amores impossíveis que passaram e tiveram uma importância maior do que deveria ter sido em minha vida, e que me trancaram junto com todas as outras caixas que eu guardo com tanto zêlo, e que só agora consegui parar de reviver aquilo que ao mesmo tempo, tanto me fez bem e tanto me destruiu.
Pela janela, ainda exergo adiante uma possibilidade no campo pessoal, que pode ou não dar certo. Depende de um dos dois baixar a guarda, para que os beijos, que tanto são bons, ficarem melhor ainda sem os muros que nos cercam, e os quais nós mesmos erguemos em volta de nossos tão sofridos e marcados corações...
Mas ainda que haja certa esperança e certa estima nas coisas vividas e a viver, ainda tenho aquela sensação de que meus amores verdadeiros deixaram a vida antes que eu nascesse, e ainda tenho mais medo de me deixar perder por aqueles pequenos caminhos que levam a lugar nenhum, onde inevitavelmente, as caixas estarão lá, mais uma vez, sedutoras e prontas para que você as destampe e perca mais valiosos anos de sua vida revivendo as fotos, as lembranças, as músicas, os papeis de doces e as cartas que só foram entregues a si mesmo por si próprio...
Pela janela, há minha doce e insignificante crença de que sempre pode e será diferente, embora históricamente, a vida me mostrou que nas caixas sempre haverão os mesmos conteúdos, as mesmas histórias, as mesmas perdas... A mesma sensação de ter vivido tudo e ao mesmo tempo não ter tido nada, sem trocas, sem cumplicidade, e o que é pior, sem a sensação de ter cativado intensamente alguém, como tantas vezes, tantas o fizeram perder a cabeça...
E sigo olhando para a janela, onde o dia clareia a passos lentos, onde o amarelo vai ficando azul, e onde as lembranças e nostalgias são as únicas companheiras de momento, que me remetem àquele tempo em que tudo, extremamente tudo, era intenso e mágico....

Um comentário:

Crys Ribeiro disse...

Da Janela lateral, num quarto de dormir... zumbi??? Ai.. "Num passado remoto perdi meu controle".
Sabe. As vezes é preciso apenas por as caixas debaixo da cama. E algumas, lacradas, jamais deveriam ser abertas novamente.
Eu amooooooo você... Espero que consiga manter a "sua nova caixa", aberta por mto tempo.
Seja feliz. Dê-se a chance de ser...
Abra sua caixa, para que alguém melhor possa depositar algo de bom.
Bjooooooo