quarta-feira, 24 de junho de 2020

Caminheiro viajante

Corre, corre o garoto na beira do lago. Corre escutando algo no fone, com pensamentos perdidos. Corre o garoto na beira do lago, olhando o dia ir embora, sentindo o cheiro da terra molhada na beira do lago. Na beira do lago, corre o garoto. Corre o garoto cruzando os rostos desconhecidos no meio da multidão, entre as caras anônimas e vidas que correm no paralelo.

Corre sem ter certeza de nada... todas as suas mágoas, todos os seus sonhos... tudo o que conseguiu realizar e tudo que ficou no "e se..." Apenas corre.

Corre, agora com um pouco menos de rancor... com um pouco menos do pessimismo e vendo as coisas com um pouco mais de cor.

Na beira do lago, corre o garoto. Apenas corre. Com todo o chão pela frente, ele corre.

Corre estando presente, no presente. Sem culpas do passado, sem ansiedades do futuro.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Pertencimento...

Na minha última postagem que ninguém leu, eu falei sobre o pertencimento.

Agora são exatamente 23h53 de uma quarta feira de quarentena por causa de uma doença que chama COVID19. Tem cerca de 98 dias que o ano começou, com tanta promessa de ser um ano bom, mas até agora foi mais um ano bosta. Puts, é um saco ser pessimista nesse blog que já teve textos tão ricos e incríveis...

Após um casamento que machucou bastante (embora também tenha trazido tantas e tantas experiências maravilhosas), eu acreditei de verdade que eu seria daqueles caras que iam em Pubs sozinho, tomar uma cerveja, assistir ao jogo de futebol americano e escutar uma boa banda de rock no sótão. Só que não.

O sentimento de não pertencimento a essa existência é uma coisa muito maluca. E soa muito ingrato da minha parte, visto as coisas tão incríveis que eu já vivi até hoje, de ser um grande vencedor dada a história difícil que foi se tornar adulto no meio de tanta coisa jogando contra. Até hoje é assim, mas hoje eu consigo ver que não acontece só comigo, o que torna o sentimento ainda pior (caso fosse uma coisa que acontecesse tão só e apenas comigo, seria mais fácil "consertar").

Essa falta de algo que não dá para explicar, essa sensação de que eu estou "quebrado" ou com alguma peça faltando é muito pesada. Não dá pra saber pra onde ir... É como se algo me chamasse, é como se eu estivesse fora do lugar de onde eu deveria estar. Essa sensação me acompanha há muitos anos. Não me lembro quando começou, mas achei que quando eu saísse de Uberaba eu iria invariavelmente chegar aonde eu deveria. E hoje aqui estou, isolado, com todos os meus instrumentos musicais, com o meu espaço de música, com meu espaço individual que eu sempre quis, num apartamento animal, com meu escritório montado... e a maldita sensação de estar faltando algo não me deixa.

Me pego sempre pensando: "Vou me mudar de São Paulo"... mas aqui eu fui tão feliz como nunca fui, mesmo com tantos percalços... mesmo agora nessa situação de quarentena, me dá calafrios de pensar que possa haver uma possibilidade de ter que retornar para minha cidade.  Não sinto vontade de tentar conseguir clientes novos, não sinto vontade de trabalhar nos que eu já tenho hoje.

Vou no mercado, compro cervejas e ervas para fazer drinks, pra tentar fugir da realidade, mas nem tesão de ficar de porre eu tenho. Matei quase meio litro de whisky e não consegui ficar bêbado. Dias atrás bebi 7 long necks e fiquei sóbrio. Óbvio que não estava sóbrio, mas não veio a sensação da fuga de realidade. É como se houvesse uma condenação do tipo: Não, você não vai fugir desse sentimento pq é a sua sentença. Viva isso...

É quase como se eu buscasse um prazer no sofrimento, nesse sofrimento sem face, sem nome, sem cor, que apenas me joga nas costas a sensação do não pertencimento. Da sensação de que algo falta, de que eu preciso voltar para algo, que dá uma saudade absurda, mas é tão cruel que nem me diz o que é, quem é e onde fica...